Os princípios ativos são as substâncias de uma planta que possuem efeitos biológicos no organismo de seres humanos e outros animais. No caso da Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, estes princípios ativos se chamam canabinóides.
Dentre aproximadamente 130 canabinóides identificados, há dois cujos efeitos se destacam, e que já foram isolados e testados clinicamente em seres humanos, sendo os mais promissores nas pesquisas médicas desenvolvidas até o momento. São eles o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC).
Os canabinóides fazem parte do grupo de compostos químicos que produzem seus efeitos por meio da ativação dos receptores canabinóides no cérebro. A Cannabis sativa, planta da qual se derivam os canabinóides, vem sendo usada em medicina há séculos, havendo registros de seu uso desde a China antiga.
A cannabis foi proibida em um grande número de países por décadas, mas atualmente está voltando a ser legalizada em vários deles, principalmente de acordo com seus potenciais medicinais, que estão sendo comprovados através de estudos atuais.
No caso do Brasil, a justiça aprovou em 2019 a importação de insumos à base dos princípios ativos da planta, para serem utilizados na fabricação de produtos derivados de Cannabis.
A partir de 2020, esses insumos puderam começar a ser comercializados em farmácias, desde que prescritos por médicos e entregues por um farmacêutico.
De acordo com a regulamentação brasileira, os produtos à base de Cannabis não podem ser chamados de medicamentos, embora seu uso se restrinja exclusivamente a fins terapêuticos. Está vedada a possibilidade de consegui-los em farmácias de manipulação e, devido ao seu potencial tóxico, pertencem a uma categoria diferente dos fitoterápicos.
A liberação de compra e venda de produtos derivados de Cannabis no Brasil foi impulsionada principalmente devido ao potencial do canabidiol no tratamento de crises convulsivas, especialmente em casos mais raros de epilepsia, nos quais os pacientes demonstram resistência aos medicamentos de uso costumeiro nesses tratamentos.
O uso de canabinóides é indicado também no tratamento de dores crônicas de diversas etiologias, sendo as mais comuns as dores neuropáticas associadas a diabetes, vírus da imunodeficiência humana (HIV)/AIDS, esclerose múltipla, artrite reumatoide severa, fibromialgia, dores de origem oncológica, pós-traumas ou pós- cirúrgicas e neuropatias periféricas.
Dentre os dois canabinóides mais estudados, o THC é a substância mais presente na Cannabis sativa, e o principal responsável pelos efeitos psicotrópicos capazes de causar as alterações mentais, popularmente acessadas através do uso recreativo. Além disso é o canabinóide com maior potencial de causar dependência química e psicológica, além de possuir efeitos colaterais, chegando a provocar possibilidade de surtos psicóticos em pessoas predispostas.
Por outro lado, ele tem muitas possibilidades terapêuticas: foi o primeiro canabinóide a ser estudado e já teve todo o seu potencial avaliado. É o princípio ativo mais tóxico da Cannabis conhecido até hoje, mas também tem efeitos terapêuticos bem estudados, por exemplo, no tratamento da falta de apetite em casos de Aids ou das náuseas e vômitos em pacientes fazendo quimioterapia de câncer, no controle da pressão intraocular em casos de glaucoma e no tratamento complementar das dores neuropáticas em casos de esclerose múltipla.
Sendo assim, não é possível analisar a eficácia de um medicamento apenas analisando um princípio ativo. Como nos produtos à base do extrato de plantas, normalmente, há um sinergismo entre os princípios ativos, um deles sozinho não necessariamente vai prover todo o efeito terapêutico.
Apesar disso o uso de canabinóides tem suas contra indicações bem definidas, sendo desaconselhada para pacientes menores de 25 anos, pois predispõe a risco aumentado de transtornos psicossociais; para pacientes com histórico de uso recreativo de C. sativa (por conta do risco da dependência); para pacientes com histórico de abuso de substâncias ou outras drogas psicoativas (também em decorrência da predisposição em desenvolver desordens de abuso dessas substâncias).
O uso de canabinóides pode também liberar catecolaminas, causando vasoconstrição e taquicardia. Em pacientes com doenças cardiovasculares, como angina e arritmia, e naqueles com doenças cerebrovasculares, devem ser usados com precaução.
Por conta do que se sabe sobre essas substâncias até hoje, a regulamentação da Anvisa definiu que os produtos a base de Cannabis com menos de 0,2% de THC devem conter tarja preta e o informe de que só podem ser comercializados com retenção de receita, com atendimento de um profissional farmacêutico, e os produtos a base de cannabis acima de 0,2%, devem conter a tarja preta, conter toda a informação contida naqueles abaixo de 0,2% e, além disso, tudo, uma informação bem clara que é um produto passível de causar dependência.
Atualmente já é possível pesquisar modificações na estrutura da molécula para diminuir os efeitos tóxicos, então as possibilidades terapêuticas estão abertas para os grupos de pesquisa avançarem seus estudos.
A Anvisa já decidiu que a regulamentação no Brasil deverá ser revisada em até três anos, justamente em razão do estágio técnico-científico em que se encontram os produtos à base de Cannabis mundialmente.
Como a legalização, as discussões e descobertas sobre alguns desses temas são recentes, os estudos sobre tratamentos medicinais desses canabinoides e suas potencialidades e adversidades ainda estão no início. Não é possível aferir sobre os efeitos a longo prazo nos pacientes.
De acordo com a Agência Nacional, as empresas brasileiras devem continuar com suas estratégias de pesquisa para comprovação de eficácia e segurança de suas formulações, pois pelo atual conhecimento, estamos diante de uma situação em transição regulatória.
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